Primeira edição da Revista da ESPM de 2019 é integralmente dedicada ao 'espírito do tempo'.
Mais uma excelente edição da Revista da ESPM, desta vez pautada pelo Zeitgeist, o espírito do nosso tempo. O tema não poderia ser mais oportuno,
A curiosidade pessoal ou a necessidade profissional nos conduzem a observar o mundo a nossa volta. Da amplitude e profundidade dessa observação depende a realidade que construiremos, do sentido que daremos às informações que coletamos.
Quando se trata de tomar decisões, no entanto, precisamos dar um passo além da observação imediata. É importante compreender as forças que agem sobre a sociedade para desvendar como chegamos ao presente e quais os possíveis caminhos que poderemos trilhar no futuro próximo.
"Zeitgeist é um conceito popularizado pela filosofia do século XIX que traduzimos normalmente como “espírito dos tempos”; ele vem, por sua vez, da tradução para o alemão da expressão latina Genius saeculi, espírito guadião do século." - Flavio Ferrari
No CIFS – Copenhagen institute for Futures Studies – utilizamos o conceito de Megatrends para compreensão do presente e desenvolvimento de cenários prováveis para o futuro, tendo em vista esses movimentos gerais da sociedade que em muito se aproximam da noção de Zeitgeist. São essas múltiplas macrotendências, interagindo simultaneamente, que dão forma ao Espírito do Tempo.
As megatrends e o espírito do tempo
Neste momento, três delas merecem especial atenção: Individualização, Democratização e Polarização. Individualização é a necessidade de se distinguir do coletivo. Democratização é a promoção da igualdade e da participação coletiva. Polarização é o distanciamento e esvaziamento do espaço entre posições extremas.
Elas atuam no contexto de outras Megatrends, como Desenvolvimento Tecnológico, Imaterialização e Aceleração e Complexidade, acentuando o conflito entre o individual e o coletivo, entre as causas sociais e os casos pessoais.
O Desenvolvimento Tecnológico é uma das forças promotoras da rápida inovação, que torna a vida mais complexa e acelerada, mas que, através das soluções digitais, impulsiona a Imaterialização, que valoriza o acesso em relação à posse.
No mundo de hoje, a identificação dessas seis forças (e outras oito indicadas pelo CIFS) permite explicar como, no caso particular do Brasil, o recrudescimento da polarização das posições em relação a temas sociais e políticos produziu um clima generalizado de decepção e de momentânea desesperança em relação a causas coletivas, interrompendo o declínio do individualismo para o curto prazo e acentuando a importância das causas pessoais.
A busca de propósito, como causa pessoal, alimenta o espírito de nosso tempo. O reconhecimento da diversidade, sob a influência da polarização, promove a consciência de pertencimento à humanidade (e não a grupos estigmatizados por suas características), de um lado, e o reconhecimento das diferenças individuais, do outro.
Humanos em busca do conhecimento e reconhecimento de sua individualidade e de elevação, como no poema de Hölderlin.
Este é o Genius saeculi, o espírito do nosso tempo.
Flavio Ferrari
Head do CIFS BR
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