O valor do “big data”, dos métodos analíticos (“data Science”) e da inteligência artificial aplicada à gestão de informação é inegável, e o grande poder de processamento a custos relativamente baixos justifica o investimento que vem sendo feito pelas grandes corporações nessa área.
Na economia brasileira, entretanto, 99% das empresas registradas podem ser classificadas como micro ou pequenas empresas. Elas respondem por mais de 50% dos empregos gerados no país e por aproximadamente 30% do PIB (mais de 50% do setor do comércio). São aproximadamente 13 milhões de negócios optantes pelo Simples Nacional, 70% dos quais identificados como MEI – microempreendedores individuais (fonte: EBC/SEBRAE/Caged).
Esses números tendem a crescer. Em países como o Reino Unido, a Alemanha, Itália e Holanda, essa participação na formação no valor adicionado ao PIB está acima de 50%. Os entraves burocráticos, particularmente para exportação, são um dos fatores restritivos ao crescimento. No Brasil, as MPEs respondem por apenas 4% das exportações contra mais de 40% nas principais economias europeias (fonte: EBC).
As PME também podem utilizar informações para subsidiar decisões e desenvolver seus negócios, com pouco investimento e alguma criatividade.
O “big data”, entretanto, não é a fonte de informação mais relevante para as PME. Seus negócios costumam ter dimensões menores e acontecem em nichos relativamente pequenos. A PME pode concentrar sua atenção no que, em contraposição ao “big data”, poderíamos chamar de “small data”.
“Small data” é um termo que se refere a uma quantidade reduzida de informações, capazes de gerar insights relevantes.
“Estudos publicados com base na análise de big data são um bom exemplo de small data”.
As conclusões mais interessantes para seu setor de negócios, oriundas das análises de “big data”, serão publicadas em trabalhos acadêmicos e repercutidas pela mídia. Basta ficar atento, cadastrar-se em serviços de alerta gratuitos (com o Google Alerts), assinar serviços de informação, acompanhar a mídia especializada e os veículos de negócio ou, simplesmente, fazer buscas regulares na internet.
De um modo geral, grandes corporações, que investiram substanciais somas de dinheiro nesses estudos e contribuíram com seus dados (ou os dados a que têm acesso), serão as primeiras a conhecer esses resultados. Na prática, seus executivos não trabalham com o “big data”, mas com os resultados analíticos obtidos a partir desse conjunto de informações, ou seja, o “small data”. E, embora sejam privilegiadas pelo conhecimento prévio e detalhado das conclusões dos estudos, serão mais lerdas para inovar e irão concorrer em outros patamares. O importante para a PME é estar mais bem informado do que seus concorrentes diretos.
A principal fonte de informação para as PME é o conjunto de seus stakeholders mais próximos: clientes, parceiros de negócio, sócios, colaboradores, fornecedores e concorrentes. Esses agentes compõem o micro ecossistema de atuação da PME e reúne os interessados no sucesso da pequena organização e no desenvolvimento de seu nicho de atuação.
De conversas informais a pesquisas qualitativas mais bem estruturadas, os stakeholders podem oferecer informações preciosas para o desenvolvimento do negócio que, combinadas com o acompanhamento de informações publicadas (que chamamos de “desk research”), poderão gerar novas ideias para aprimoramento do negócio.
"Escutar, observar, contextualizar, imaginar e engajar."
Martin Lindstorm, autor dinamarquês reconhecido por estudar os efeitos da influência social nas decisões de compra, colunista da Time e da Harvard Business Review, publicou, em 2016, o livro “Small data: Como Poucas Pistas Indicam Grandes Tendências”. Embora aborde, prioritariamente, casos de grandes corporações, ele chama a atenção para o poder da observação e da flexibilidade mental. Observar o mundo ao nosso redor pode nos inspirar para, de forma analógica, inovar em nossa atividade.
Imagine que você tem um pequeno comercio de roupas femininas e que uma de suas clientes chega com uma blusa nova. Você elogia e pergunta onde comprou. Ela responde que trocou por outra peça de roupa que não utilizava mais, em um site de “escambo”. Você se lembra de haver lido, em algum lugar, que essa prática de trocas de objetos usados é uma tendência que vem se acentuando, já causando algum impacto no comércio em geral (e essa informação foi produzida, possivelmente, pela análise de “big data”). Você pode ficar triste porque “perdeu” uma venda e poderá perder muitas outras no futuro, ou incluir a troca em seu modelo de negócios, oferecendo um desconto significativo na compra de uma roupa nova para a cliente que trouxer sua peça de roupa usada, talvez criando um bazar mensal de peças de roupas recondicionadas, e ainda ter reconhecimento dos clientes pela atitude sustentável. Antes de implementar a ideia, você pode conversar com algumas clientes para validá-la, e engajar fornecedores como patrocinadores, ou até mesmo concorrentes para participarem do grande bazar mensal.
Este é apenas um breve exemplo que, de certa forma, também acompanha as sugestões de Ansgar Gerstner, especialista em filosofia Taoísta, professor de artes marciais e “coach” de executivos, autor do livro “The Tao of Business: Using Ancient Chinese Philosophy to Survive and Prosper in Times of Crisis” (2010), e demonstra a importância da visualização de cenários futuros para a inovação sustentável.
Por mais complexo que possa parecer o mundo dos negócios, com o aporte de novas tecnologias, ele segue sendo composto por seres humanos, com seus desejos, necessidades e vontades.
Escuta-los, e manter-se informado, compõe a essência do “small data” que inspira as grandes ideias para seu negócio, qualquer que seja o seu tamanho.
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