Quatro pesquisas de intenção de voto para a prefeitura de São Paulo, publicadas desde o início de setembro, apontaram resultados significativamente diferentes para o desempenho dos principais candidatos.
Embora coincidam ao apontar Russomano e Covas na disputa da primeira posição, seguidos de Boulos e França, as diferenças entre os percentuais não são pequenas. Vale observar que a pesquisa da Atlas foi realizada aproximadamente 15 dias antes das demais.
Quatro fatores podem explicar essas diferenças:
1. Metodologia de abordagem
Cada uma das pesquisas utilizou uma metodologia diferente para abordar os entrevistados. Ibope e DataFolha fazem entrevistas presenciais, o primeiro abordando os respondentes em seus domicílios e o segundo em pontos de fluxo (nas ruas). O Instituto Ideia realiza suas entrevistas por telefone e o Atlas pela Internet.
A estratégia de abordagem favorece diferentes perfis de entrevistados, mesmo quando se toma o cuidado de controlar o perfil da amostra. Pesquisa por internet e telefone excluem pessoas que não têm acesso aos dispositivos necessários para resposta e dependem de listagens com vieses desconhecidos para seleção dos entrevistados. Pesquisas domiciliares são mais inclusivas, mas privilegiam as pessoas que passam mais tempo em suas residências. Pesquisas realizadas em pontos de fluxo favorecem a participação de quem passa mais tempo nas ruas e, nesse momento de pandemia, excluem os que estão em isolamento social.
Além disso, as taxas de rejeição de cada uma das abordagens são diferentes.
2. A apresentação da lista de candidatos
Tradicionalmente, nas pesquisas presenciais os candidatos são apresentados em um disco, dispostos em círculo, de forma a que a ordem de apresentação não influencie a escolha. Nas pesquisas por Internet é comum alternar a posição dos candidatos no questionário endereçado a cada respondente, de forma a compensar o viés de posição. Nas pesquisas telefônicas é feita a leitura dos nomes dos candidatos, também alterando sua ordem a cada entrevista, mas o candidato não visualiza todos os nomes simultaneamente.
3. O momento inicial da campanha
Como estamos no início do processo eleitoral, os eleitores desconhecem os candidatos e ainda não tiveram tempo para pensar sobre o assunto. A pesquisa realizada pela Ideia e divulgada pela Revista Exame constatou que 55% dos entrevistados não saberiam indicar seu candidato sem a apresentação dos nomes para opção.
Nessa situação, as respostas costumam ser menos consistentes e nomes mais conhecidos como os de Russomano (TV Record), ou de candidatos que ocupam cargos executivos ou disputaram eleições recentemente, como Covas, Boulos e França, tendem a se sobressair nas pesquisas, até que os eleitores formem sua opinião.
4. A pandemia da Covid-19
Neste momento, as eleições municipais não são a maior preocupação da população e a dinâmica das grandes cidades está bastante alterada em diversos aspectos, de logísticos a emocionais, influenciando não apenas as respostas como a disposição para responder, e os institutos ainda estão se adaptando a essa nova realidade.
O que podemos esperar?
Tudo indica que teremos uma diversidade maior de institutos realizando pesquisas com metodologias diferentes nas próximas semanas, e é muito provável que as divergências entre eles continuem acontecendo.
O natural seria uma evolução para a convergência, considerados os vieses metodológicos, como costumamos observar entre os tradicionais Ibope e DataFolha, mas o intervalo até as eleições talvez seja curto demais para que o eleitorado “amadureça” suas convicções.
Não será surpresa, entretanto, se Boulos vier a substituir Russomano na disputa da primeira posição com Covas, já que o espaço que ele ocupa nas conversas das redes sociais (um bom termômetro para a disputa) parece ser bem maior.
Acompanhemos.
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