Richard Dawkins, biólogo evolutivo e escritor britânico, publicou seu livro “O Gene Egoísta” em 1976.
Uma das ideias centrais do livro, que é pautado pela teoria da evolução de Darwin, é que a reprodução imperfeita está na raiz da evolução. Um gene, uma célula ou um organismo se reproduz de forma ‘defeituosa’ e, caso essa imperfeição seja útil para sua sobrevivência, a cópia imperfeita irá prevalecer sobre a original com o passar do tempo. Esse fenômeno tem sua origem no ‘caldo primordial’ (uma mistura caótica de compostos orgânicos), onde biólogo soviético Oparin, 1924 sugere que a vida tenha se iniciado.
Dawkins, neste mesmo livro, foi responsável pela criação do termo ‘meme’, tão popular nos tempos atuais. Um ‘meme’ é uma ideia simples, essencial, facilmente transmitida e memorizável. O meme estaria para a memória assim como o gene para a genética.
Podemos emprestar essas ideias de Oparin e Dawkins para avaliar o que acontece hoje com a comunicação.
O ambiente midiático é, de certa forma, equivalente ao caldo primordial. A tecnologia vem dissolvendo as estruturas rígidas e criando novos elementos, que se combinam de forma aleatória e se reproduzem de forma indisciplinada. Aquilo que se demonstra mais útil vai sobrevivendo e passando por novas mutações, num processo infinitamente mais acelerado do que o da evolução humana.
A utilidade dessa profusão de possibilidades, que determina sua sobrevivência, é a capacidade de transmissão de ideias.
Nesse ambiente multifacetado e desafiador, o ‘meme’, ou a essência das ideias, comporta-se como o gene egoísta de Dawkins, cujo único objetivo é a própria sobrevivência.
"Um bom meme é como um gene eficiente, adaptando-se ao ambiente e perpetuando-se através da reprodução."
E assim como o gene contem o código que determina a formação de organismos, cuja principal finalidade é garantir sua preservação e multiplicação no ambiente, o meme determina a formação das ideias que serão multiplicadas e preservadas na mente humana.
Entender as transformações do cenário de mídia é compreender o meme como um fator determinístico. Entre as diversas possibilidades oferecidas pela tecnologia, o resultado desse processo evolutivo será aquele mais capaz de garantir a sobrevivência das ideias geradas pelos memes.
Episódios recentes, aqui mesmo no Brasil, oferecem boas pistas para identificarmos os caminhos mais eficazes para a reprodução dos memes.
O caso da Bettina, a jovem milionária da Empiricus e o comercial do Banco do Brasil, que recebeu o veto presidencial, são dois exemplos disso. Uma combinação sinérgica da mídia ‘tradicional’ com as redes sociais provocou, em ambos os casos, a ressonância da comunicação.
Ressonância é um termo emprestado da Física, um fenômeno que acontece quando a frequência de vibração de um material é potencializada por uma fonte externa de mesma frequência, aumentando sua amplitude. Galileu foi o primeiro estudioso a se debruçar formalmente sobre o assunto.
O exemplo clássico é o de um cantor de ópera quebrando uma taça de cristal com sua voz.
A pureza do cristal (meme essencial) e a capacidade do cantor (contexto midiático) de identificar e produzir o estímulo adequado e com intensidade suficiente para gerar a ressonância, são determinantes para a amplitude da vibração.
Brand Publishing é a expressão que vem sendo utilizada para identificar um novo modelo de comunicação com o protagonismo das marcas, como complemento ou alternativa para o antigo formato interruptivo dos comerciais e anúncios.
Essa nova estratégia deve ganhar terreno ainda na presente década.
Respeitados os princípios de Dawkins (meme) e Galileu (ressonância), extrair o melhor do caldo de Oparin vai ser sopa.
Flavio Ferrari
Head do CIFS BR
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