Em 1981, Faith Popcorn cunhou o termo ‘cocooning’ para evidenciar a intensificação do comportamento ‘caseiro’ do norte-americano. Cinco anos depois, apontou para o fato de que, mais do que uma moda, essa seria uma tendência marcante para os anos seguintes, explicando tratar-se da construção de uma "concha de segurança" em torno de si mesmo, um casulo (cocoon) que protege contra os assédios da vida cotidiana.
A equipe do CIFS BR - Copenhagem Institute for Futures Studies identificou a transformação dessa tendência em tempos digitais.
O aconchego familiar, complementado pelas mordomias domésticas como a TV a Cabo, o acesso à internet, o forno de micro-ondas para os pratos prontos congelados e as confortáveis poltronas reclináveis (na descrição de Popcorn) perdeu o sentido diante de outros vetores sociais identificados pelo CIFS, como a Individualização, a Sociedade Conectada (network Society) e a Imaterialidade, mas a necessidade de buscar a proteção em uma zona de conforto se manteve.
A casa e suas mordomias foram substituídas pelo celular e seus aplicativos. O casulo, agora, é móvel e acompanha o consumidor onde quer que ele decida estar.
Algoritmos e aplicativos: a bolha é o novo casulo
Redes Sociais como o Facebook, mecanismos de busca como o Google, sites de compras como a Amazon, orientadores de mobilidade como o Waze e a grande maioria dos aplicativos populares no ambiente digital utilizam algoritmos para identificar nossas preferências e oferecer uma experiência de uso mais agradável e interessante.
Onde quer que naveguemos, estaremos cercados pelas mensagens de nossos contatos mais frequentes, temas pelos quais costumamos nos interessar, produtos adequados ao nosso perfil de consumo e informações que costumamos necessitar.
Esse confortável espaço digital, onde tudo nos parece familiar e interessante recebeu o apelido de ‘bolha’(bubble).
Em termos práticos, o smartphone (a interface mais comum para acesso ao mundo digital) substituiu a residência fixa como base do seu universo pessoal.
Cada indivíduo é o centro de seu próprio mundo. Faz mais sentido investir no seu desenvolvimento pessoal do que na compra de bens que você já não precisa possuir para utilizar.
As implicações dessça, combinadas com outros vetores de transformação, são amplas e interessantes.
Renunciamos à nossa privacidade em troca do conforto digital. Tudo o que fazemos no mundo digital deixa rastros que são monitorados por aqueles que querem nos oferecer produtos e serviços. E, com singular alegria, contribuímos com posts e selfies nas redes sociais, apresentando nossa ‘persona digital’, ampliando nossa rede e construindo relacionamentos.
Em contrapartida, esperamos o reconhecimento de nossa individualidade.
Nossa disposição para buscar novas experiências aumenta na medida em que a zona de conforto nos acompanha. Em qualquer lugar, estaremos em nosso casulo, familiar e seguro.
As transformações na arquitetura social e no ecossistema de comunicação oferecem oportunidades e desafios que merecem a atenção e demandam novos aprendizados para o mundo dos negócios.
No ponto central desse contexto está um consumidor que espera ser reconhecido, respeitado e atendido em sua individualidade, e que acredita ser o protagonista da relação com as marcas.
Para ser incluída no casulo do consumidor a marca precisa ser relevante. Propósito, conforto e benefícios costumam ser as três chaves mestras para abrir todas as portas.
Ao abrir mão de sua privacidade, o consumidor espera que suas informações sejam utilizadas em seu benefício.
Respeitadas as garantias de proteção oferecidas pela LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados) e as normas internacionais, as marcas podem surpreender o consumidor demonstrando real interesse por sua segurança, conforto e prazer durante sua jornada diária, e merecer um lugar especial em seu casulo.
A confiança é fundamental.
Importante ressaltar que o conceito de ética é estendido nesse cenário. Não se pode abusar da intimidade oferecida pelo consumidor.
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