Back to the 80's...
No final de março, nosso Ministro da Economia avisou que poderá emitir moeda para resolver a dívida interna gerada pelo combate à Covid-19. Nesta semana, o Presidente da Câmara disse, durante uma entrevista e um tanto fora de contexto, que há pessoas preocupadas com a autonomia do Banco Central, que hoje está vinculado ao Ministério da Economia e é o órgão responsável pela emissão do dinheiro.
A emissão de dinheiro era uma prática regular no Brasil nos anos 80 e início dos anos 90, até o Plano Real. A inflação anualizada chegou a quase 2.500% e o pico mensal do período superou 80%. Essa inflação anual significa que, se você tem R$ 25,00 reais no seu bolso no primeiro dia do ano, terminará o ano com R$ 1,00 (seu dinheiro perderá 96% do valor em um ano). Na prática, ao emitir dinheiro em grande quantidade, o governo terá tirado R$ 24,00 do seu bolso. É mais fácil, mais rápido e mais eficiente do que aumentar impostos, e é impossível de sonegar.
Para facilitar o entendimento desse mecanismo, consideremos o seguinte exemplo:
Suponha que você tenha conseguido juntar R$ 1 milhão, e esse seja todo o dinheiro do mundo e que, portanto, você possa comprar o mundo inteiro. Se eu imprimir um milhão para mim, cada um de nós terá R$ 1 milhão e todo o dinheiro do mundo passa a ser R$ 2 milhões. Agora, com o seu dinheiro, você só pode comprar metade do mundo. Ou seja, ao imprimir o meu milhão, “roubei” metade do seu, e não há nada que você possa fazer a respeito. Esse, claro, é um raciocínio simplificado. Mas acredite que é assim que a coisa funciona.
Fato é que o governo está gastando mais do que tem para combater a pandemia. Como cortar custos não é uma tarefa fácil, terá que aumentar impostos ou emitir dinheiro (ou títulos, o que dá na mesma) para pagar suas dívidas. E como aumentar impostos também é complicado, será mais fácil emitir dinheiro, já que só depende da decisão do Conselho Monetário Nacional, que também é vinculado ao governo.
Tudo indica que teremos mais um “flash back”.
Ao mesmo tempo, o governo também diminui a taxa Selic, o que significa que a remuneração do dinheiro guardado será menor.
A combinação da baixa remuneração do dinheiro guardado com perspectiva de aumento de preços (inflação), pode ser um estímulo para que o dinheiro local circule (melhor comprar, antes que aumente o preço). E se os especuladores internacionais serão menos atraídos pelo cenário, a desvalorização do Real (outra consequência provável da emissão) pode motivar um aumento no investimento em ativos e estimular a compra de produtos brasileiros.
No curto prazo, a medida pode ser positiva para acelerar a recuperação da economia.
Mas o país, ex-adicto, pode voltar ao vício.
Já vimos esse filme antes, e não foi bom.
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