No filme Inception (A Origem) de 2010, o personagem Don Cobb (Leonardo Di Caprio) mergulha no inconsciente de Robert Fischer, filho de um poderoso empresário, para inseminar uma ideia que dará origem a uma cadeia de associações e transformará sua decisão sobre a divisão do império de seu pai, que está à beira da morte.
É uma espécie de "efeito borboleta", da Teoria do Caos, quando temos uma série de eventos concatenados e uma pequena alteração de uma variável no início da série pode resultar em uma gigantesca mudança no evento final.
Seria impossível convencer Fischer numa abordagem direta. A ideia de dividir o império deveria partir dele.
As grandes mudanças sociais seguem a mesma receita. Aqui e ali absorvemos elementos fractais de uma ideia que vai se formando como se fosse nossa, mas que contamina o inconsciente coletivo. É nossa, mas é de todos, e parece não ter um autor em especial. Simplesmente, começa a fazer sentido e toma conta da sociedade.
O movimento Solarpunk, que começou a tomar forma no início deste século como uma derivação do Steampunk e do Cyberpunk, associada à preocupação com a ecologia e as distopias do possível colapso do planeta, é um bom exemplo atual.
A ideia de que um futuro melhor é possível desde que plantemos suas sementes nas rachaduras deste mundo que começa a dar sinais de que irá ruir em algum momento, não tem um autor único identificável. Ninguém em particular se posiciona como líder do movimento, mas multiplicam-se os entusiastas.
Podemos fazer diferente, fazer diferença e mudar o mundo. A cínica rebeldia Punk, contra cultural e desconstrutiva, se transforma no desejo de construir algo melhor, com a mesma simplicidade e autonomia de pensamento.
Na França, o movimento Happy Collapse é de um otimismo similar, embora sem o viés estético dos derivados do Punk. O mundo, tal qual conhecemos, irá colapsar, mas podemos nos preparar desde já para viver melhor, com menos recursos.
A força desses movimentos está em sua coautoria, na disposição individual e coletiva de transformar, no compartilhamento de uma visão difusa de um futuro melhor, do qual importamos a felicidade idealizada para o momento presente. Nesse futuro, viveremos melhor e seremos mais felizes, então decidimos trabalhar para construí-lo e vivemos melhor e somos mais felizes enquanto fazemos isso.
PLANTAR SEMENTES DE INOVAÇÃO NAS RACHADURAS DA VELHA CULTURA
A inovação sustentável nas organizações pode seguir o mesmo caminho. É claro que o CEO pode decidir a inovação e ordenar sua implementação, mas será um processo de transformação custoso e sofrido, com muitas baixas pelo caminho.
Mas se a ideia transformadora é inseminada, a inovação emergirá de forma natural. O esforço será muito menor e o resultado mais consistente. Não precisaremos implementar uma mudança cultural para acomodar a inovação. A cultura se transformará enquanto a semente da inovação germina.
O líder inovador não será o autor da inovação, mas o inseminador da ideia transformadora. Ou, muitas vezes, apenas o criador do ambiente propício e o agente inspirador para que essas ideias surjam e se apoderem da equipe.
Convide a equipe a imaginar futuros melhores e logo todos estarão em busca dos caminhos que levam até lá.
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