O Governo divulgou nesta semana alguns indicadores otimistas em relação à retomada do crescimento econômico.
O principal parâmetro de referência é a emissão de Notas Fiscais Eletrônicas que, segundo a Receita Federal, cresceu 15% de maio para junho, alcançando um volume 10% superior a igual período no ano passado.
Embora não deixe de ser uma boa notícia, essa abordagem não considera que a economia informal foi a maior impactada pela crise.
Estima-se, em números redondos, que algo em torno de 20% do PIB seja gerado através de negócios informais. E mesmo os negócios formais, apesar do crescente esforço da Receita, costumam efetuar vendas sem emissão de NF quando a compra é presencial ("no balcão").
Ocorre que, com a pandemia, boa parte da sociedade passou a utilizar os canais de e-commerce para diversos tipos de compra. Os canais digitais tiveram um crescimento aproximado de 70% nos últimos três meses, e o controle da Receita sobre a emissão de notas fiscais é maior nesses canais.
Fato é que boa parte das vendas não formalizadas pela emissão de notas fiscais no mundo físico (presenciais) passou a ser formalizada quando realizada no ambiente digital, e isso pode "explicar" parte do crescimento da emissão das NFe, sem representar, efetivamente, a recuperação econômica.
Como exemplo, um negócio que vendia R$ 100 por dia informalmente (sem nota) de forma presencial, pode estar vendendo, em função da crise, apenas R$ 30 via e-commerce. Neste exemplo, o negócio teve uma queda de 70%, mas contribuiu para o crescimento da economia formal, quando tomamos a emissão de NFe como indicador.
De um modo ou de outro, estamos observando o início da recuperação da economia, com a gradual saída da quarentena e os mecanismos criados pelo governo para estimular a circulação do dinheiro (subsídios, créditos, etc.), e a maior formalização dos negócios irá contribuir para o aumento do recolhimento de impostos e para a recuperação das contas públicas, mas o cenário real talvez não seja tão positivo quanto os indicadores formais nos levarão a acreditar.
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